“Um país não se suicida. Mas o facto é que a República está em chamas. E portanto a questão é clara: ou o Estado democrático resolve os problemas da República, ou alguém os resolverá contra ele.”

domingo, dezembro 18, 2005

A análise de António José Teixeira

"O PS anda muito perturbado com as sondagens presidenciais. E tem razões para isso. As previsões disponíveis continuam a sublinhar no horizonte a forte probabilidade de uma vitória de Cavaco Silva logo à primeira volta. Mostram também um eleitorado socialista dividido, polarizado entre Mário Soares, candidato apoiado pelo PS, e Manuel Alegre, que se candidatou sem o apoio do seu partido. Aqui chegados, salta à vista que há um candidato que unifica a direita e penetra no centro-esquerda. Salta à vista que há um candidato mobilizador à direita e não há, até agora, um candidato suficientemente mobilizador à esquerda. A abundância de candidatos à esquerda sucedeu a um vazio. Um vazio que demorou tempo a preencher, mas que é em si mesmo revelador da angústia em encontrar uma personalidade que, por si só, seja um pólo capaz de federar a esquerda. Obviamente que o combate eleitoral não tem de ser forçosamente bipolar. E o facto de não ter surgido uma candidatura alternativa à direita pode não ser muito abonatório para a vitalidade democrática. É o que é. Demonstra a habilidade com que Cavaco Silva geriu dez anos de afastamento da primeira linha de combate político e a força com que reapareceu em cena.

A esperança do PS e da esquerda está na possibilidade de uma segunda volta. E para que possa acontecer é preciso que a esquerda conquiste o maior número de votos possível, ou seja, é preciso que os quatro candidatos aproveitem o maior número de votos potenciais. Os quatro candidatos precisam uns dos outros, uma vez que nenhum deles tem força suficiente, pelo menos por agora, para aglutinar os respectivos eleitorados. Há demasiados ressentimentos e se, por hipótese, algum desistir, quem ganhará com isso é a abstenção, logo Cavaco Silva. Estranha-se assim o apelo de vários dirigentes socialistas à desistência de Manuel Alegre. Mário Soares precisa de Manuel Alegre para poder passar à segunda volta, como Alegre precisa de Soares. Tal como ambos precisam que Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã cativem os seus eleitorados. O PS quererá dar um novo impulso a Mário Soares, talvez pela má consciência de pouco se ter mobilizado nesse sentido ou por recear o futuro de Manuel Alegre. Qualquer que seja a sua intenção, o PS parece continuar empenhado em vitimizar Alegre e concentrar atenções em "tricas", como lhes chamou o sorridente Cavaco Silva."

in http://dn.sapo.pt/2005/12/17/editorial/perturbacao_socialista.html

Decorre da argumentação deste jornalista que existem cidadãos com responsabilidades os quais, pelos seus apelos à desistência, estão a fazer o que mais interessa a Cavaco Silva. E não estamos a falar de uns cidadãos quaisquer, são homens considerados como finos estrategas e reconhecidos opinion-makers dentro de uma certa área da esquerda.
Quem ganha com a eleição de Cavaco?
Como nos melhores policiais e na investigação real, os crimes desvendam-se a partir dos motivos... O tempo tudo revela.